Morte súbita em jovens atletas – e eu então? Corro algum risco em fazer atividade física?

O atleta simboliza, para muitos, o segmento mais saudável de toda a sociedade. Por isso, quando se dá a notícia de que um atleta, ainda mais se jovem, morreu durante a prática de seu esporte, a comoção e espanto toma conta de todos. Grande parte disto se deve porque sempre relacionamos a morte (parada cardíaca) a pessoas mais velhas, muitas vezes moribundas, cheias de comorbidades, ou pelo menos com alguma patologia grave já sabida do coração. A questão é que a morte súbita é um evento fatal que ocorre em até 1 hora do início dos sintomas, geralmente minutos após, muitas vezes em indivíduos aparentemente sadios, sem nenhum conhecimento de doença pré-existente, como no caso dos atletas já citados.

Não se pode dizer que atividade física é maléfica, que aumenta sua chance de morrer – muito pelo contrário: a atividade física comprovadamente tem vários benefícios cardiovasculares, é um grande aliado no combate à obesidade (este sim grande fator de risco para doenças cardiovasculares que levam à morte como infarto e derrame cerebral), ajuda no controle da pressão arterial, da glicemia e do colesterol, melhora sua capacidade de concentração, mental e física, etc.

Então por que algo que faz tão bem ao coração pode ter levado estes atletas à morte? Na verdade, o esforço físico pode induzir a arritmias fatais (levando a morte súbita – parada cardíaca) nas pessoas que têm uma doença grave já existente no coração e muito provavelmente não sabiam, sendo as mais comuns nos jovens atletas, em ordem decrescente: a miocardiopatia hipertrófica (mutação genética que leva o coração a “engrossar” assimetricamente sua parede muscular), origem anômala das coronárias (os vasos que nutrem o coração, as coronárias, não têm nenhum entupimento, mas têm sua origem e seus trajetos de forma anormal, anômala) e displasia arritmogênica do ventrículo direito (mutação genética onde um compartimento do coração, o ventrículo direito, tem sua morfologia alterada de várias formas). Em todas estas, a atividade física intensa é o gatilho para uma arritmia fatal, a qual não ocorreria num coração normal. Já nos atletas mais velhos, acima dos 40 anos, a causa de morte súbita mais comum se assemelha à da população geral desta mesma faixa etária, que é a doença coronariana (vasos do coração entupidos, por placas de gorduras), aí sim a morte sendo decorrente de um infarto.

Vários exames, dos mais simples aos mais complexos, e não mesmo importante a anamnese (história do paciente e exame físico), são utilizados para se detectar uma possível anomalia no coração, para que assim o paciente possa iniciar com segurança a atividade física, ou se primeiro deverá tratar uma doença existente. Converse com seu cardiologista!